domingo, 19 de julho de 2009

Charges sem talento

Para filósofos e sambistas, mais uma charge sem grandes pretensões. Mas, a semelhança é mesmo inegável.

Sartre e Dona Ivone Lara
















Um abraço!

E vê se cutuca a cuca.

terça-feira, 14 de julho de 2009

O Passado no Presente e no Futuro

Opa...

Demorou, mas cá estou de novo com mais alguma coisa. O que segue abaixo é um texto que seria um abuso dizer que é meu. Possui algumas frases minhas, costurei o texto, formatei-o dessa forma, mas as palavras e idéias principais não são minhas. Copiei muitos trechos ipsis literis dos textos que cito ao final como bibliografia, sendo então os principais créditos de: Fernando Henrique Cardoso, Luiz Carlos Mendonça de Barros, Reinaldo Azevedo e Rui Nogueira.

Por que este texto? Para mostrar como diversas discussões ocorridas em tempos passados sobre problemas socioeconômicos continuam muito atuais, e provavelmente ainda continuarão por muito tempo. E, principalmente, por concordar com as idéias apresentadas por este grande pensador que é Fernando Henrique Cardoso. E como nunca é demais relembrar boas idéias, segue:


Uma Análise sobre a "Teoria da Dependência Associada", de Fernando Henrique Cardoso

Completando 40 anos de sua publicação, o livro Dependência e Desenvolvimento na América Latina – fruto da parceria de FHC e Enzo Faletto – continua sendo objeto de muitas leituras enviesadas. Resultado é que se criou ao seu entorno uma enorme desinteligência: A concepção de que FHC e Faletto escreveram uma obra que prova a impossibilidade de os capitais dos países “do centro” poderem industrializar os países da “periferia” (para usar a terminologia Cepalina). Quando na verdade se tratava – seria possível dizer – exatamente do contrário. Como explica Reinaldo Azevedo, diretor de redação da revista Primeira Leitura:

“Contra a linha do Partido Comunista, contra certo fatalismo vigente na Cepal (sob forte influência o argentino Raúl Prebisch), os autores caracterizaram formas diversas de dependência e trataram sobretudo das possibilidades (e não das impossibilidades) de o ‘centro’industrializar a ‘periferia’. (...) Vale dizer: se teoria havia, era antes sobre as variáveis da independência dos países da tal ‘periferia’.”

Fernando Henrique aponta que o que era sua intenção de criar, fundamentalmente, uma “teoria do capital”, acabou se tornando popularmente e erroneamente a tal “Teoria da Dependência” (expressão considerada por ele “absurda”). No seu trabalho, é possível perceber uma dupla intenção crítica. Por um lado, a crítica das análises do desenvolvimento que abstraem os condicionamentos sociais e políticos do processo econômico; principalmente as concepções evolucionistas (das etapas) e funcionalistas (especialmente a teoria da modernização) do desenvolvimento. Sobre este lado, temos as próprias palavras de FHC:

“A crítica se faz mostrando-se que o desenvolvimento que ocorre é capitalista e que não pode desligar-se do processo de expansão do sistema capitalista internacional e das condições políticas em que este opera.”

Por outro lado, há uma crítica que tem por objetivo revelar que a “análise” estrutural dos processos de formação do sistema capitalista só tem sentido quando referida historicamente. Prisma sobre o qual também é possível destacar as palavras de FHC:

“As estruturas condicionantes são o resultado da relação de forças entre classes sociais que se enfrentam de forma específica em função de modos determinados de produção. Trata-se, portanto, de valorizar um estilo de análise que apanha os processos sociais num nível concreto.”

No livro, foram explicitados alguns conceitos válidos ainda hoje sobre as possibilidades e limitações das chamadas economias dependentes, que têm espaço e autonomia para planejar o seu desenvolvimento, mas que não conseguem operar apenas segundo suas intenções. O contexto ideológico, sobre o qual o livro Dependência e Desenvolvimento na América Latina foi escrito, era marcado pela tradição do pensamento da esquerda, articulado a partir do pensamento do Partido Comunista, que tinha por sua vez uma ligação com a teoria geral do comunismo, segundo a qual a luta se dava contra o imperialismo, tendo de haver uma aliança da burguesia local com o Estado e com os trabalhadores para acabar com o latifúndio e com o imperialismo. Porém, nessa época, FHC (então membro da Cepal) já havia feito uma pesquisa em São Paulo com diversos empresários e observado que, em sua maioria, predominava a idéia da organização para se associar a empresas estrangeiras. E já havia investimento estrangeiro. Já estava começando a surgir o que FHC chamaria, depois, de “relação de dependência associada”. Ele percebe que a teoria da burguesia nacional não se sustentava. Não havia uma burguesia esclarecida que fosse fazer a democracia e o crescimento econômico para, depois, os trabalhadores se unirem para fazer o socialismo.

Porém, na Cepal corria uma outra teoria mais sofisticada, sustentada principalmente por Raúl Prebisch em um livro sobre o pensamento de Keynes: A teoria da “deterioração dos termos de troca”. Ele mostrava que a troca entre commodities e produtos industrializados se dava sempre em detrimento de quem importava industrializados, pois o valor relativo era maior. E isso porque os ganhos de produtividade havidos pela industrialização nos países centrais não se transferem para a baixa do preço porque os trabalhadores desses países se organizam e puxam o salário para cima. A idéia central era então de que nós, no Brasil – e na América Latina, em geral – vamos perder se nos limitarmos à exportação de commodities. Depois temos de, ao nos industrializarmos, aumentar o coeficiente tecnológico, e isso só seria possível – uma vez que não temos capital – através da interferência do Estado e do capital privado, inclusive estrangeiro.
Mas, FHC discute que tanto uma teoria quanto a outra – tanto a de esquerda como a cepalina – eram muito mecânicas. Elas apresentavam que, dados os fatores gerais, determinavam-se as especificidades. O livro de FHC sobre desenvolvimento e dependência tenta mostrar que não é necessariamente isso que ocorre. Apesar da real deterioração do sistema de intercâmbio e dos interesses imperialistas, há tipos diversos de vinculação com o centro. E desses diversos tipos, destacam-se três:

1º: Quando se tem um setor capaz de produzir acumulação – como é o caso da agricultura no Brasil e na Argentina. Ele cria capital aqui dentro e depois investe esse capital até na indústria. Ele pode até se associar em um próximo momento, mas possui um certo dinamismo. Consegue-se assim formar uma burguesia e um proletariado. Nesse caso, é possível haver industrialização do mercado interno.

2º: Quando se tem um enclave. Quando o capital vem de fora, passa pelo país, e a realização é feita lá fora. Nesse caso, não é possível uma industrialização do mercado interno, pois os grupos locais se organizam, o Estado é que dá a concessão para o estrangeiro, a modernidade fica contida num enclave, e as classes locais são burocráticas e vivem de tirar dinheiro do governo, do Estado. É o caso da Venezuela. Não se cria propriamente uma burguesia porque o espírito empresarial está com o capital estrangeiro. Até se cria um operariado, mas no enclave.

3º: Quando os capitais externos passam a investir na periferia. Investimento na produção de bens de consumo e de bens de capital. Nesse caso, altera-se a dinâmica.

Portanto, percebe-se que é possível para um país ter maior ou menor chance de um curso histórico, dependendo de como se dê a dinâmica, apesar das limitações genéricas. Para fechar com as palavras novamente de FHC:

“Eu queria quebrar o mecanicismo da visão e mostrar a importância do fator político, que está ligado, naturalmente, ao econômico e ao social.”

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Bibliografia:
- “TEORIA DA DEPENDÊNCIA” OU ANÁLISES CONCRETAS DE SITUAÇÕES DE DEPENDÊNCIA?, Fernando Henrique Cardoso (1970).

- Revista PRIMEIRA LEITURA, edição nº 29, 2004.

- AS IDENTIDADES DO BRASIL DE VARNHAGEN A FHC, José Carlos Reis (1999).
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Um grande abraço!

E vê se cutuca a cuca!