Opa...
Recebi um e-mail esses dias falando sobre a letra da introdução do nosso hino, que teria sido excluída. Resolvi ler um pouco sobre o assunto e vi que tinha material suficiente para falar um pouco sobre isso aqui.
A questão é: Havia, até alguns anos atrás, uma letra que era cantada na introdução do nosso hino (aquela parte que hoje é apenas instrumental). A letra seria a seguinte:
Espera o Brasil
Que todos cumprai
Com o vosso dever.
Eia avante, brasileiros,
Sempre avante!
Gravai com buril
Nos pátrios anais
Do vosso poder.
Eia avante, brasileiros,
Sempre avante!
Servi o Brasil
Sem esmorecer,
Com ânimo audaz
Cumpri o dever,
Na guerra e na paz
À sombra da lei,
À brisa gentil
O lábaro erguei
Do belo Brasil.
Eia sus, oh sus!
Verifiquei e a informação procede em partes. O hino realmente possuía essa letra em sua introdução, porém não fazia parte do poema composto por Joaquim Osório Duque Estrada (que é a letra que utilizamos hoje). Era uma segunda letra escrita por Américo de Moura apenas para a introdução e agregada ao poema que letra todo o resto do hino. Porém, essa letra da introdução não chegou a ser oficializada.
Aliás, nem a letra que usamos hoje é exatamente o poema de Duque Estrada. Segue abaixo a versão original, composta em 1909. Essa letra só seria oficializada em 1922, depois de várias modificações (coincidência ter sido no mesmo ano da Semana da Arte Moderna e da Crise de 22? Eu não saberia responder...). Em negrito está o que foi mudado:
I
Ouviram do Ipiranga as margens placidas
Da Independência o brado retumbante,
E o sol da liberdade, em raios fulgidos,
Brilhou no céu da patria nesse instante.
Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Pelo amor da Liberdade
Desafia o nosso peito a propria morte!
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve, salve!
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
De amor e de esperança à terra desce.
Escudo em teu céu azul, risonho e limpido,
A imagem do Cruzeiro resplandece.
Gigante pela propria natureza,
És belo, és grande, impavido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza!
Terra adorada
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Patria amada!
Dos filhos de teu flanco és mãe gentil,
Patria amada,Brasil!
II
Deitado eternamente em berço esplendido,
Entre as ondas do mar e o céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, jóia da América
Iluminada ao sol do Novo Mundo!
Do que a terra mais garrida,
Teus risonhos, lindos campos tem mais flores,
"Nossos bosques têm mais vida,"
"Nossa vida," no teu seio, "mais amores!"
Ó Patria amada,
Idolatrada,
Salve, salve!
Brasil! Seja de amor eterno símbolo
O pavilhão que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro dessa flamula:
- Paz no futuro e gloria no passado.
Mas da Justiça erguendo a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta
Nem teme, quem te adora, a propria morte,
Terra adorada
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Patria amada!
Dos filhos de teu flanco és mãe gentil,
Patria amada, Brasil!
Está faltando alguns acentos, mas estava assim na Wikipedia e fiquei com preguiça de arrumar. Aproveitando a deixa, um pouco de conhecimento próprio... rs... coloquei entre aspas os trechos que foram utilizados do poema "Canção do Exílio", de Gonçalves Dias. Ele o compôs cinco anos depois de partir para Portugal, com saudades de sua pátria (o Brasil). É um poema que muita gente conhece o começo. Vale (MUITO) a pena ler inteiro. Aí vai:
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Resolvi também reler sobre este poema e vi que Gonçalves Dias se inspirou no poema Mignon, de Goethe. Mas, aí este e-mail ia ficar muito extenso... rs... Só para fechar, a Canção do Exílio possui muitas versões posteriores, de outros escritores, desde sátiras até refeverências. Quem quiser conhecer todas as versões, tem este site: http://recantodaspalavras.wordpress.com/2008/04/05/cancao-do-exilio-e-outras-versoes/
Vou me despedir com uma das versões, a de Jô Soares, para ter um pouco de humor aqui. rs
CANÇÃO DO EXÍLIO ÀS AVESSAS (de Jô Soares)
Minha Dinda tem cascatas
Onde canta o curió
Não permita Deus que eu tenha
De voltar pra Maceió.
Minha Dinda tem coqueiros
Da ilha de Marajó
As aves, aqui, gorjeiam
não fazem cocoricó.
O meu céu tem mais estrelas
Minha várzea tem mais cores.
Este bosque reduzido
Deve ter custado horrores.
E depois de tanta planta,
Orquídea, fruta e cipó
Não permita Deus que eu tenha
De voltar pra Maceió.
Minha Dinda tem piscina,
Heliporto e tem jardim
Feito pela Brasil’s Garden
Não foram pagos por mim.
Em cismar sozinho à noite
Sem gravata e paletó
Olho aquelas cachoeiras
Onde canta o curió.
No meio daquelas plantas
Eu jamais me sinto só.
Não permita Deus que eu tenha
de voltar pra Maceió.
Pois no meu jardim tem lago
Onde canta o curió
E as aves que lá gorjeiam
São tão pobres que dão dó.
Minha Dinda tem primores
de floresta tropical
Tudo ali foi transplantado
Nem parece natural
Olho a jabuticabeira
Dos tempos da minha avó.
não permita Deus que eu tenha
de voltar pra Maceió.
Até os lagos das carpas
São de água mineral.
Da janela do meu quarto
Redescubro o Pantanal
Também adoro as palmeiras
Onde canta o curió
Não permita Deus que eu tenha
De voltar pra Maceió.
Finalmente, aqui na Dinda,
Sou tratado a pão-de-ló
Só faltava envolver tudo
Numa nuvem de ouro em pó.
E depois de ser cuidado
Pelo PC com xodó,
não permita Deus que eu tenha
de voltar pra Maceió.
É isso aí!
Um grande abraço e vê se cutuca a cuca!
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Valor Econômico dos Bens Culturais
Opa... mais um pouquinho de economia da cultura para vocês!
Abaixo segue um texto de Felipe Ribeiro, economista do Ministério da Cultura (MinC). Trata da valoração dos bens culturais, principalmente através de um instrumental microeconômico - ponto de equilíbrio entre Oferta e Demanda -, mas levando em conta variáveis alternativas que incidem sobre esses bens específicos.
30 de novembro de 2007
Valor econômico dos bens culturais
por Felipe Ribeiro, economista do MinC
A dimensão econômica da cultura tem sua expressão mais bem definida quando usamos uma teoria de valor que se aplica primeiramente na teoria econômica, mais exclusivamente na microeconomia. Quando vamos valorar um bem cultural, o primeiro passo é distingui-lo entre um caráter potencialmente privado, no qual demanda e oferta se aplicam intrinsecamente; e um caráter público, que gera presença de externalidades na sociedade e sem um preço definido pela lei de mercado. Geralmente o conteúdo simbólico é fator determinante ao valorarmos tais bens.
Há, também, a presença de bens mistos, como, por exemplo, a pintura de Van Gogh. Esta pode ser vendida e comprada como um objeto de arte e, ao mesmo tempo, é detentora de conteúdo simbólico na história da arte, gerando externalidades para o público em geral, historiadores, amantes de arte, etc.
Voltemos primeiramente aos bens de caráter privado, onde podemos prontamente mensurá-los. Como na teoria do consumidor, estes (consumidores) detêm um conjunto de preferências, e, por uma série de variáveis, escolhem entre o consumo de um bem em detrimento de outro, de acordo com o preço do bem em questão, o preço de bens similares, etc.
Desta forma, é possível uma derivação da curva de demanda como qualquer outro bem, e uma oferta refletindo custos marginais na produção do bem. O equilíbrio é então alcançado. Contudo, o preço, ao contrário dos demais bens ordinários, é variável limitada para se determinar um equilíbrio de mercado.
No que diz respeito aos bens culturais, são necessárias novas qualificações adicionais. Pelo lado da demanda, as preferências são variáveis com o decorrer do tempo. O consumo é visto como um processo, oriundo do grau de conhecimento e experiência adquiridos com o consumo anterior, fazendo com que as preferências sejam mutáveis com o passar do tempo.
Um exemplo clássico está na demanda de uma pessoa interessada em artes plásticas. Tomemos como exemplo a pintura. Quanto mais essa pessoa vai a exposições, mais seu gosto pelas artes se torna aguçado e seu grau de valor muda sensivelmente. Sua curva de preferências e, consequentemente, a demanda dela derivada, é uma variável sempre em processo dinâmico.
Assim, a função de consumo é definida como:
C = f ( P, Poutros bens, R, Canterior)
Conforme vemos, o consumo, além das variáveis comuns que determinam seu valor, também é determinado pelo consumo anterior, que muda os gostos e as curvas de indiferença e, consequentemente, a demanda ao longo do tempo.
Esta peculiaridade dos bens culturais privados também se aplica pelo lado da oferta, onde os produtores nem sempre são maximizadores de lucro (particularmente artistas plásticos) e o preço esperado da oferta envolve critérios subjetivos, não dependendo dos custos marginais de produção ou da receita aparente.
No que concerne aos bens culturais, conforme vimos, o preço não representa um indicador chave no valor econômico. Esta situação complexa é resolvida, nos dias de hoje, de forma simples. É aceitável, por exemplo, o uso de estatísticas de mercado, como o volume transacionado de música, a renda auferida de cinema, o público consumidor, entre outras, para se caracterizar um valor econômico do bem em questão - nem sempre determinado de forma explícita, porém como uma variável aproximada.
Tratando-se de bens culturais públicos, o uso de procedimentos de medidas econômicas se torna, mais uma vez, possível.
Conforme salientamos, tais bens são providos na maior parte pelo governo e têm valor intangível, alcançando um espectro que ultrapassa o lado econômico, gerando externalidades também presentes na esfera social. O aumento da qualidade de vida se faz presente quando o Estado provê tais bens. Um exemplo clássico é a revitalização do patrimônio histórico de uma cidade. Com o passar do tempo, acompanhado de conscientização patrimonial, os cidadãos do local cujo patrimônio foi revitalizado começam a usufruir de melhor saneamento, limpeza das ruas, iluminação pública e, condizente a esse processo, melhorias econômicas. Com o aumento do turismo cultural, novos empregos são gerados, a renda da população melhora de nível, etc.
Com relação a estes bens culturais, como todo bem público, há o problema da estimação das curvas de oferta e demanda. Os procedimentos descritos acima encontram sua base no método da valoração de contingente (CVM), pelo qual são adaptadas condições para se derivar as curvas de oferta e demanda como as de um mercado tipicamente privado. É utilizado o consumo agregado potencial para dado preço no caso da demanda, e, no caso da oferta, os custos variados de produção. Tal método é uma estimação limitada na qual o mercado não encontra respaldo.
São utilizados, mais uma vez, métodos de conteúdo simples, como estatísticas de público consumidor, além de lucro auferido pelo Governo ao prover tais bens e aumento do desenvolvimento sócio-econômico por meio de um leque de indicadores.
Texto elaborado com base no livro Economics and Culture, de David Throsby, adaptado ao caso brasileiro.
http://www.cultura.gov.br/site/2007/11/30/valor-economico-dos-bens-culturais/
Abaixo segue um texto de Felipe Ribeiro, economista do Ministério da Cultura (MinC). Trata da valoração dos bens culturais, principalmente através de um instrumental microeconômico - ponto de equilíbrio entre Oferta e Demanda -, mas levando em conta variáveis alternativas que incidem sobre esses bens específicos.
30 de novembro de 2007
Valor econômico dos bens culturais
por Felipe Ribeiro, economista do MinC
A dimensão econômica da cultura tem sua expressão mais bem definida quando usamos uma teoria de valor que se aplica primeiramente na teoria econômica, mais exclusivamente na microeconomia. Quando vamos valorar um bem cultural, o primeiro passo é distingui-lo entre um caráter potencialmente privado, no qual demanda e oferta se aplicam intrinsecamente; e um caráter público, que gera presença de externalidades na sociedade e sem um preço definido pela lei de mercado. Geralmente o conteúdo simbólico é fator determinante ao valorarmos tais bens.
Há, também, a presença de bens mistos, como, por exemplo, a pintura de Van Gogh. Esta pode ser vendida e comprada como um objeto de arte e, ao mesmo tempo, é detentora de conteúdo simbólico na história da arte, gerando externalidades para o público em geral, historiadores, amantes de arte, etc.
Voltemos primeiramente aos bens de caráter privado, onde podemos prontamente mensurá-los. Como na teoria do consumidor, estes (consumidores) detêm um conjunto de preferências, e, por uma série de variáveis, escolhem entre o consumo de um bem em detrimento de outro, de acordo com o preço do bem em questão, o preço de bens similares, etc.
Desta forma, é possível uma derivação da curva de demanda como qualquer outro bem, e uma oferta refletindo custos marginais na produção do bem. O equilíbrio é então alcançado. Contudo, o preço, ao contrário dos demais bens ordinários, é variável limitada para se determinar um equilíbrio de mercado.
No que diz respeito aos bens culturais, são necessárias novas qualificações adicionais. Pelo lado da demanda, as preferências são variáveis com o decorrer do tempo. O consumo é visto como um processo, oriundo do grau de conhecimento e experiência adquiridos com o consumo anterior, fazendo com que as preferências sejam mutáveis com o passar do tempo.
Um exemplo clássico está na demanda de uma pessoa interessada em artes plásticas. Tomemos como exemplo a pintura. Quanto mais essa pessoa vai a exposições, mais seu gosto pelas artes se torna aguçado e seu grau de valor muda sensivelmente. Sua curva de preferências e, consequentemente, a demanda dela derivada, é uma variável sempre em processo dinâmico.
Assim, a função de consumo é definida como:
C = f ( P, Poutros bens, R, Canterior)
Conforme vemos, o consumo, além das variáveis comuns que determinam seu valor, também é determinado pelo consumo anterior, que muda os gostos e as curvas de indiferença e, consequentemente, a demanda ao longo do tempo.
Esta peculiaridade dos bens culturais privados também se aplica pelo lado da oferta, onde os produtores nem sempre são maximizadores de lucro (particularmente artistas plásticos) e o preço esperado da oferta envolve critérios subjetivos, não dependendo dos custos marginais de produção ou da receita aparente.
No que concerne aos bens culturais, conforme vimos, o preço não representa um indicador chave no valor econômico. Esta situação complexa é resolvida, nos dias de hoje, de forma simples. É aceitável, por exemplo, o uso de estatísticas de mercado, como o volume transacionado de música, a renda auferida de cinema, o público consumidor, entre outras, para se caracterizar um valor econômico do bem em questão - nem sempre determinado de forma explícita, porém como uma variável aproximada.
Tratando-se de bens culturais públicos, o uso de procedimentos de medidas econômicas se torna, mais uma vez, possível.
Conforme salientamos, tais bens são providos na maior parte pelo governo e têm valor intangível, alcançando um espectro que ultrapassa o lado econômico, gerando externalidades também presentes na esfera social. O aumento da qualidade de vida se faz presente quando o Estado provê tais bens. Um exemplo clássico é a revitalização do patrimônio histórico de uma cidade. Com o passar do tempo, acompanhado de conscientização patrimonial, os cidadãos do local cujo patrimônio foi revitalizado começam a usufruir de melhor saneamento, limpeza das ruas, iluminação pública e, condizente a esse processo, melhorias econômicas. Com o aumento do turismo cultural, novos empregos são gerados, a renda da população melhora de nível, etc.
Com relação a estes bens culturais, como todo bem público, há o problema da estimação das curvas de oferta e demanda. Os procedimentos descritos acima encontram sua base no método da valoração de contingente (CVM), pelo qual são adaptadas condições para se derivar as curvas de oferta e demanda como as de um mercado tipicamente privado. É utilizado o consumo agregado potencial para dado preço no caso da demanda, e, no caso da oferta, os custos variados de produção. Tal método é uma estimação limitada na qual o mercado não encontra respaldo.
São utilizados, mais uma vez, métodos de conteúdo simples, como estatísticas de público consumidor, além de lucro auferido pelo Governo ao prover tais bens e aumento do desenvolvimento sócio-econômico por meio de um leque de indicadores.
Texto elaborado com base no livro Economics and Culture, de David Throsby, adaptado ao caso brasileiro.
http://www.cultura.gov.br/site/2007/11/30/valor-economico-dos-bens-culturais/
É isso aí!
Até a próxima.
E vê se cutuca a cuca!
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