Aiô, Silver!
Ando meio desandado esses tempos em relação à Arte. Não sei se porque tenho refletido muito sobre algumas questões primordiais do fazer artístico, e acabo não avançando na produção enquanto não me resolvo com esses problemas, ou se porque sou preguiçoso mesmo. De qualquer maneira, tenho me conformado com algumas premissas desse fazer artístico, pelo menos enquanto arte produzida no Brasil no contexto atual. E dessas premissas tenho concluído que eu não posso ser um escritor brasileiro contemporâneo popular... segue um texto meu explicando o porquê:
Sandálias de Couro ou o Escritor Brasileiro Contemporâneo Popular
Eu não posso ser um escritor brasileiro contemporâneo popular porque eu não gosto de usar sandálias de couro.
Eu não posso ser um escritor brasileiro contemporâneo popular porque eu deixo minha barba mal feita por desleixo e não por ideologia.
Eu sei que nunca poderei ser um escritor brasileiro contemporâneo popular enquanto na minha prateleira houver um espaço reservado aos livros de economia empresarial, à Bíblia e aos livros de direita conservadora, independente da minha opinião sobre eles.
Eu sei que nunca poderei ser um escritor brasileiro contemporâneo popular enquanto eu não enxergar poesia nenhuma na miséria, nem tampouco achar que todos são artistas, nem tampouco aceitar que a Arte não tenha restrições.
Eu não posso ser um escritor brasileiro contemporâneo popular porque eu duvido da eficácia de modelos sociais erigidos pelos homens, não confio na razão coletiva e acho a democracia um sistema imperfeito por levar em conta a opinião de pessoas que não deveriam ter suas opiniões levadas em conta,
e eu não posso ser um escritor brasileiro contemporâneo popular porque eu não sei resolver esse problema.
Aliás, esse é um outro motivo pelo qual eu nunca poderei ser um escritor brasileiro contemporâneo popular: eu não tenho alternativa para 90% dos problemas da humanidade.
Sem contar que conheço pouco de Chico, não acho mendigo legal, gosto de ganhar bem pelo que faço, não me importo com a história do Che e acho alguns filmes iranianos um saco de se assistir.
Como eu posso querer ser um escritor brasileiro contemporâneo popular desse jeito? São muitas imperfeições...
Eu nunca o serei enquanto as palavras comunismo, socialismo, esquerda, revolução e oprimidos estiverem associadas em minha memória à palavra fascismo.
Eu nunca o serei enquanto não tiver vergonha de achar Tom Zé uma merda.
Eu nunca o serei enquanto tiver convicção de que Brecht era um grande teatrólogo mas um péssimo intelectual.
Eu nunca o serei enquanto cismar em dizer que Marx era genial mas justamente pelo motivo oposto que enfatizam os marxistas.
E finalmente eu nunca o serei enquanto acreditar que a existência de hierarquias é uma premissa para o progresso da civilização.
Um escritor brasileiro contemporâneo popular não pode dizer essas coisas, não pode agir assim.
Então, eu não posso ser um escritor brasileiro contemporâneo popular; pelo menos não enquanto eu souber o porquê.
Por enquanto é só, pessoal! Um grande abraço!
E vê se cutuca a cuca!
Ando meio desandado esses tempos em relação à Arte. Não sei se porque tenho refletido muito sobre algumas questões primordiais do fazer artístico, e acabo não avançando na produção enquanto não me resolvo com esses problemas, ou se porque sou preguiçoso mesmo. De qualquer maneira, tenho me conformado com algumas premissas desse fazer artístico, pelo menos enquanto arte produzida no Brasil no contexto atual. E dessas premissas tenho concluído que eu não posso ser um escritor brasileiro contemporâneo popular... segue um texto meu explicando o porquê:
Sandálias de Couro ou o Escritor Brasileiro Contemporâneo Popular
Eu não posso ser um escritor brasileiro contemporâneo popular porque eu não gosto de usar sandálias de couro.
Eu não posso ser um escritor brasileiro contemporâneo popular porque eu deixo minha barba mal feita por desleixo e não por ideologia.
Eu sei que nunca poderei ser um escritor brasileiro contemporâneo popular enquanto na minha prateleira houver um espaço reservado aos livros de economia empresarial, à Bíblia e aos livros de direita conservadora, independente da minha opinião sobre eles.
Eu sei que nunca poderei ser um escritor brasileiro contemporâneo popular enquanto eu não enxergar poesia nenhuma na miséria, nem tampouco achar que todos são artistas, nem tampouco aceitar que a Arte não tenha restrições.
Eu não posso ser um escritor brasileiro contemporâneo popular porque eu duvido da eficácia de modelos sociais erigidos pelos homens, não confio na razão coletiva e acho a democracia um sistema imperfeito por levar em conta a opinião de pessoas que não deveriam ter suas opiniões levadas em conta,
e eu não posso ser um escritor brasileiro contemporâneo popular porque eu não sei resolver esse problema.
Aliás, esse é um outro motivo pelo qual eu nunca poderei ser um escritor brasileiro contemporâneo popular: eu não tenho alternativa para 90% dos problemas da humanidade.
Sem contar que conheço pouco de Chico, não acho mendigo legal, gosto de ganhar bem pelo que faço, não me importo com a história do Che e acho alguns filmes iranianos um saco de se assistir.
Como eu posso querer ser um escritor brasileiro contemporâneo popular desse jeito? São muitas imperfeições...
Eu nunca o serei enquanto as palavras comunismo, socialismo, esquerda, revolução e oprimidos estiverem associadas em minha memória à palavra fascismo.
Eu nunca o serei enquanto não tiver vergonha de achar Tom Zé uma merda.
Eu nunca o serei enquanto tiver convicção de que Brecht era um grande teatrólogo mas um péssimo intelectual.
Eu nunca o serei enquanto cismar em dizer que Marx era genial mas justamente pelo motivo oposto que enfatizam os marxistas.
E finalmente eu nunca o serei enquanto acreditar que a existência de hierarquias é uma premissa para o progresso da civilização.
Um escritor brasileiro contemporâneo popular não pode dizer essas coisas, não pode agir assim.
Então, eu não posso ser um escritor brasileiro contemporâneo popular; pelo menos não enquanto eu souber o porquê.
Por enquanto é só, pessoal! Um grande abraço!
E vê se cutuca a cuca!