Opa! O importante é ser constante... Não tem sido o caso desse blog. Mas, então que seja devagar e sempre!
Segue mais um texto meu sobre o mercado cultural. Nesse texto, utilizo o conceito econômico de Utilidade Marginal Decrescente, que seria: Cada nova unidade consumida de um mesmo produto tem uma utilidade menor do que a anterior. Sendo assim, segue:
O ponto crucial da discussão quando é analisado o contexto atual é a percepção da impossibilidade da auto-sustentação, ou seja, o artista não encontra no mercado uma remuneração pelo seu trabalho que viabilize novas produções. A arte enquanto produto não se paga. E o principal problema sempre levantado nas discussões dedicadas a este assunto é a falta de consumo, de público, de demanda pela produção artística. Segundo os dados do IBGE[1], publicados por Cândido José Mendes Almeida, é impossível que a receita direta custeie a produção cultural no Brasil, salvo raras exceções. Entende-se por “receita direta” toda a receita gerada pela comercialização do produto cultural (ingressos de peças, filmes ou exposições, vendas de quadros, de livros etc.).
Ainda na mesma publicação, apresenta que os consumidores regulares de cultura correspondiam, em 1992, a 5% da população economicamente ativa e a 2% da população total, ou seja, pessoas que recebiam acima de 20 salários mínimos. Essa constatação pode trazer a análise sobre as preferências de gasto do consumidor em relação à renda, pois fica explícita a concentração do consumo de bens culturais pelas classes sociais mais elevadas.
Contudo, é importante observar que a restrição do consumo de bens culturais às classes mais elevadas não é simples de ser explicada. Em primeiro lugar, não podemos assumir que o consumo de cultura se equivalha ao de bens de luxo. E não podemos assumir por uma questão conceitual. Contradizendo o pressuposto econômico das utilidades marginais decrescentes[2], o consumo de bens culturais fomenta a criação do hábito, como explicou Alfred Marshall:
“Quanto mais boa música uma pessoa ouvir, mais provável é que seu gosto por ela aumentará”.[3]
A justificativa de Marshall é apresentada e comentada por Ana Carla Fonseca Reis:
“Marshall justificava essa exceção pelo fato de o conceito de utilidade marginal decrescente não contemplar um lapso de tempo nas preferências de uma pessoa, mas sim referir-se a um momento pontual. [Porém] quanto mais produtos e serviços culturais uma pessoa consumir, mais gosto terá por esse consumo.”[4]
Mas, nem a justificativa de Marshall, nem o comentário de Ana Carla, compreendem totalmente a contradição do pressuposto da utilidade marginal decrescente dentro do consumo cultural. É óbvio que, em alguns casos, o consumo cultural parece obedecer ao pressuposto – assistir a dez peças de teatro ou a dez filmes consecutivos causa mesmo um certo desprazer. Mas, mesmo nesses casos, o desprazer é gerado simplesmente por uma limitação física, a qual é ultrapassada ao se assistir a tantas horas seguidas de teatro ou cinema, e não pela falta de desejo de consumir mais uma unidade. O que é preciso compreender é o seguinte: O desprazer gerado pelo consumo consecutivo de teatro ou cinema é apenas físico e não conceitual. Ou seja, o consumidor gostaria de assistir mais ainda, mas seu corpo e sua mente não permitem. É diferente do consumo de sorvete, por exemplo, no qual, após a segunda ou terceira unidade, o consumidor não quer continuar consumindo. E não quer não por um desprazer apenas físico, ele realmente não deseja mais uma unidade. No caso de um bem de luxo isso também ocorre. Por exemplo, uma roupa ou um carro: O consumo de uma unidade adicional de ambos pode ser útil e prazerosa, mas já não será tanto quanto na primeira unidade. É importante perceber que em se tratando do consumo de bens culturais isso não ocorre, pois o consumo de mais um filme ou mais um livro ou mais uma música é tão útil e prazeroso – se não mais – que a primeira unidade. Portanto, há uma diferença tênue, mas substancial, entre os dois tipos de consumo: No consumo de bens de luxo, o pressuposto da utilidade marginal decrescente é válido, mas no de bens culturais não.
[1] ALMEIDA, C. (org.) Marketing Cultural ao vivo. Depoimentos. p. 14.
[2] Ou seja, a utilidade marginal proporcionada pelo consumo de um bem diminui a cada nova unidade adquirida, até o ponto em que adquirir uma nova unidade passe a causar uma desutilidade.
[3] MARSHALL, A. Principles of Economics.
[4] REIS, A. C. F. Economia da Cultura e Desenvolvimento Sustentável.
É isso aí!
Um grande abraço e vê se cutuca a cuca!
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