terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Cenas

E o que é a vida senão um espetáculo que temos que estrear sem ensaios... Quando nos damos conta, as luzes já estão acesas, já foi dado o terceiro sinal e as cortinas estão abertas: o público espera algo de nós. Improvisamos. Vamos inventando nossas falas e criando nosso personagem, aproveitando as deixas que os outros nos dão. Os outros: alguns coadjuvantes, poucos protagonistas e muitos apenas fazem o coro, dão o tom. E lá estamos nós, nos acostumando aos poucos com esse personagem que criamos de improviso e vamos ficando à vontade com o palco, nos ofuscando menos com as luzes e sentindo menos o julgo pesado da platéia. E tão logo nos acostumamos - e já conseguimos improvisar dramas mais complexos - o espetáculo está no seu último ato, cobram de nós um desfecho. Mas ainda há tanto para concluir: aquele personagem que saiu de cena no primeiro ato, o que aconteceu com ele?, e como fica o caso do amor não correspondido?, a carta ainda não chegou?, e as pazes, e as declarações, e os sonhos anunciados no segundo ato?... não haverá mais espaço, as luzes enfraquecem, o foco está em nós. Quais são as últimas palavras? Dizemos o que primeiro nos vem à mente, mal lembramos depois o que dissemos, talvez nos arrependemos. A luz apaga, as cortinas fecham. E lá ficamos nós, sozinhos, no palco escuro atrás das cortinas. Do outro lado, ouvimos apenas alguns poucos aplausos, imaginamos alguns de pé. Respiramos fundo. Demos o nosso melhor, não demos? Hora de ir para o camarim tirar a maquiagem.




E vê se cutuca a cuca!

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