quinta-feira, 17 de junho de 2010

Textos velhos...

Assoprando para tirar o pó do Blog... Agora não tenho mais tantas desculpas (só algumas)... Vai aí um texto antigo, que pertence ao meu livro de pequenos contos. Boa leitura!


ONÍRICA

Sons de uma vozinha aguda meio desconexos entrecortados por musiquinhas sem ritmo feitas com gemidinhos vêm pelo corredor ecoando baixinho provindos da porta semi-aberta do quarto da garotinha criança. Lá dentro, segurando uma boneca em cada mão e por vezes largando uma para pegar a terceira para que agora essas duas interajam enquanto a outra repousa deitada com a cara virada para o chão, a menina brinca em paz ajoelhada sobre o tapete ao lado da cama simulando o andar das bonecas ao fazê-las dar pulinhos descoordenados. Suas frases são pronunciadas em pedaços interminados e os sons que emite por vezes não fazem sentido para algum possível mas no momento inexistente observador, porque na verdade pouco importam pois toda a harmonia e existência daquele mundo feito à imitação com aquelas bonecas duras de plástico está dentro dela sendo real de alguma forma. E ela pouco ou nada se dá conta de que enquanto brinca é este mundo material e concreto que tenta reproduzir o que sem fingimento apenas acontece e realmente existe em um universo intocável que ela carrega dentro de si; que a realidade não está aqui mas lá onde aquelas bonecas pronunciam frases perfeitas e caminham sem pulinhos em um mundo muito maior que o tapete daquele quarto. Em verdade, quando sua mãe lhe requisita para o almoço aos berros da cozinha, é a real realidade da garotinha criança que se suspende dando espaço a este universo de bonecas de plástico.




(Setembro/2007)


Um abraço a todos e, em breve, novas postagens!

E vê se cutuca a cuca!

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