quarta-feira, 21 de julho de 2010

Cambalhota

Opa...

Antes que surja mofo, segue mais um conto do meu próximo livro.


Cambalhota

O espaço está vazio pois todos estão ocupados agora. Apenas ele, um homem, se mantém sentado em um caixote de madeira apoiando os cotovelos nos joelhos e a cabeça nas mãos enquanto pensa desordenadamente em tudo que lhe aflige. Sua mulher foi embora levando consigo o garoto e tudo que deixou foi um bilhete escrito às pressas em cima da mesa sem dizer para onde ia. O homem ouve as vozes vindas lá de fora mas não se mexe, pois ainda há tempo para sua solidão. Pensa no garoto e nos olhos de sua mulher aleatoriamente enquanto lembra que o aluguel está vencido e ele ainda não tem dinheiro para pagar. Lembra também que ainda precisa se decidir se vai deixar sua mãe agora viúva vir morar com ele ou se vai dar um jeito para pagar outro aluguel além do seu. Pensa no garoto e na sua mãe e nos olhos de sua mulher e suspira profundamente lembrando que além de tudo seu cachorro está doente. Alguém entra, pega alguma coisa rápido e sai, sem falar nada, e ele ainda com seus olhos cravados no chão enquanto ouve finalmente os aplausos vindos lá de fora. Esfrega o rosto com as mãos, dá mais um suspiro e se levanta. Olha em volta ainda um pouco confuso, mas não há muito que fazer. Respira fundo, coloca o nariz vermelho e abre um sorriso; e entra no picadeiro dando uma cambalhota.


É isso aí.
E vê se cutuca a cuca!

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